Milhares de pessoas se dirigem para Fátima, nesta altura do ano, vindos dos mais diversos lugares do país e até do Mundo.
Ali vão em busca de algo que lhes console a alma e cure também suas feridas ou mazelas do corpo físico, cumprindo promessas feitas com ofertas ao Santuário que lucra com isso, enquanto se espera o ‘milagre’ desejado. Milhares de velas de tantos tamanhos ardem num recanto onde o cheiro desagradável a cera derretida sobe no ar, enquanto milhares de joelhos (muitas vezes ensaguentados) se arrastam pelo chão numa demonstração de ‘fé’ que Deus ou a “Nossa Senhora” não aprecia, decerto, mas sim aquilo que cada um têm em seu coração e demonstre todos os dias com gestos de amor pelo seu semelhante e por um mundo melhor.
É claro que a fé das pessoas naquele ou noutro lugar será sempre de respeitar, e até de enaltecer se ela servir para se tornarem melhores no dia a dia neste Mundo que carece cada vez mais de Paz e Harmonia. Porém, duvido que assim seja, pois voltarão ao mesmo “módus vivendi”, aos mesmos hábitos e comportamentos quotidianos que estão na origem de tantos males no corpo e no espirito que as leva depois a fazerem promessas negociando com Deus mais umas velas ou ofertas para receberem graças divinas.
Entretanto o negócio da Religião prospera no Santuário que rende milhões de euros todos os anos (em ouro e dinheiro de ofertas) e bem assim em seu redor onde a graça divina não tem lugar e as imagens da “Virgem Maria” ou dos “pastorinhos” (de todos os tamanhos e feitios) são vendidas aos milhares, levando-se para casa uma ‘recordação’ que marque presença no “Altar do Mundo” que se tansformou há muito num ‘Altar de Profanação’ da própria Religião. Creio que era isso mesmo que Jesus diria hoje aos “vendilhões” dos tempos modernos arriscando-se é certo a ser de novo maltratado e crucificado. Estarei certo ou errado?
Sou crente em Deus, o Criador da Vida e do Universo, creio nas palavras dos Profetas e na Mensagem Redentora de Jesus Cristo ou de qualquer outra, não importa de que Religião, que cultive a Paz, o Amor e a Comunhão, mas fico contristado e preocupado com o que se está a passar neste tempo em que é preciso e urgente modificar comportamentos e atitudes que mudem o mundo para melhor, com mais verdade e mais amor.
Infelizmente, não são as Peregrinações, as Procissões, e as repetidas orações que nos fazem melhores, nós seres humanos que continuamos fazendo as mesmas coisas neste Mundo que o vão tornando pior. Os comilões e beberões continuarão a sê-lo e se justificarão sempre dizendo que nada podem fazer para acabar com a fome e miséria na terra onde morrem milhões de pessoas por falta de alimento, enquanto noutros lados se morre de 'enfarte' pelos excessos alimentares devido ao desregramento. Os invejosos e cobiçosos continuarão a lutar por aquilo que lhes dê mais prazer de viver (um carro de último modelo, uma vivenda de luxo, etc.) mesmo que esqueçam que o mais importante é o Ser e não o ter. Os insensíveis caçadores e matadores continuarão a matar ou a maltratar o animal seu irmão, sem dó nem piedade, vendo nisso um acto ‘normal’ que faz o homem ser um verdugo irracional aos olhos de quem já tem uma consciência mais humana e espiritual.
Enfim, muito mais coisas haveria para dizer e fazer pensar que afinal não somos melhores só pelo facto de sermos ‘crentes’ em Deus, fazer peregrinações e procissões, cantarmos lindas canções ou orações que elevam os corações, e depois continuarmos fazendo as mesmas coisas que abominam aos céus e trazem desgraças à terra onde sofrem as populações.
Penso que está na hora de acordar da longa “noite dos tempos” e mudar nossos pensamentos. Creio que era isso que a “Senhora Luminosa” (assim a tratavam os pastorinhos) pretendia na sua Mensagem às crianças de Fátima que sofreram na altura a incompreensão e incredulidade da própria Religião que hoje faz tanta mistificação de algo que deveria seguir noutra direcção e preparar as mentalidades para um Mundo Novo e uma Nova Forma de Civilização. De resto, a chamada "Senhora do Rosário" ou “Virgem Maria” até condenou o Clero e por alguma razão não escolheu nenhum alto dignitário da Igreja de Roma, ou outra, para fazer a sua Revelação.
Fico por aqui,
Ponto final. Pausa para reflexão!
Rui Palmela
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