segunda-feira, 30 de junho de 2008

QUAL 'GOTICISMO' EM PORTUGAL?

Surgiu recentemente em Portugal um movimento de jovens ligados à época das trevas medieval, que se identificam com o Satanismo, o Vampirismo e seus cultos, usando roupas pretas e objectos ou ornamentos que caracterizam seu próprio estilo de vida, frequentadores de cemitérios, como seres da noite que perambulam solitários à luz do dia. São conhecidos por "os góticos".

Creio, porém, que muitos desses jovens (senão a maioria) desconhecem ou confundem o termo gótico que “designa uma fase da história da arte ocidental identificável por características muito próprias de contexto social, político e religioso, em conjugação com valores estéticos e filosóficos e que surge como resposta à austeridade do estilo romântico”, que se desenvolveu na Idade Média durante o século XII.

Porém, Fulcanelli (um alquimista francês), autor do livro “O Mistérios das Catedrais”, publicado em 1926, escreve que o termo não deriva dos GODOS (antigo povo da Germania) e sim da palavra ARGOT da cabala tradicional. A Catedral é uma obra de art goth, Arte Gótica, ou Argot.

Todos os Iniciados se exprimiam em Argot, nomeadamente os franco-maçons que edificaram as obras-primas góticas que hoje admiramos, onde não faltam simbolismos cabalísticos que inclui a própria figura sinistra do ‘Gárgula’ (como se vê acima) ou a do “Baphomet”, na Catedral de Notre-Dame em Paris – França, onde teriam sido dados os primeiros passos na arquitectura de estilo gótico em meados do século XII, estendendo-se pela Europa até ao início do século XVI.

Mas foi Giorgio Vasari (pintor e arquitecto italiano) que utilizou pela primeira vez o termo gótico para designar a arte da Idade Média como o oposto da perfeição, vendo nela o obscuro e o negativo, relacionando-a neste ponto com os Godos, povo que semeou a destruição na Roma antiga em 410.

Foi com base neste pressuposto, talvez, que os ‘góticos’ actuais fundamentam a ideia de que “tudo se formou a partir das guerras bárbaras onde os Godos levantaram suas espadas e pediram ajuda ao Gothicismus para vencer seus inimigos da Horda de Abraão, os Viquings SquinReds” e que a partir dai, “toda a Arte, a Literatura, a escultura goda, tornou-se gótica, porém foi perdida com o tempo”...

O facto é que surge depois como uma subcultura marginal, chamada de gótica ou Dark, que teria seu início nos anos oitenta, presente em vários países (com grande implantação no Brasil) e mais recentemente em Portugal.

Este tipo de ‘goticismo’ teve inicio no Reino Unido durante o final da década de 1970 e se desenvolveu numa certa camada jovem que se esteolizou nos seus próprios gostos musicais (darkwave/gothic rock, death rock, trip hop, synthpop, etc.) a par duma estética visual de "moda" cujo vestuário e maquiagens (com penteados alternativos) desafiam a moda comum, fazendo chique aquilo que é decadente e negativo, glamourizando o niilismo e o hedonismo, nada tendo a ver pois com o verdadeiro sentido e significado do Gótico em Portugal ou qualquer outra parte do Mundo.

Ora, o gótico na arte e arquitectura portuguesa surge no último quartel do século XII, com as obras do Mosteiro de Alcobaça (começado em 1178), fundado pelo primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques, para a Ordem de Cister. É a primeira obra totalmente gótica no país, havendo muitas igrejas portuguesas de estilo de transição românico-gótico datando do século XIII até ao século XIV. A expansão da arquitectura gótica em Portugal deveu-se de resto às ordens religiosas dos franciscanos, dominicanos, carmelitas e agostinhos.

Um marco na arquitectura gótica portuguesa também é o Mosteiro da Batalha, construído a mando do rei D. João I para comemorar a vitória na Batalha de Aljubarrota contra os castelhanos. A obra começaria em 1388 e seguiu até o século XVI, introduzindo o gótico internacional flamejante em Portugal.

A dissolução do estilo gótico no país ocorreu depois lentamente e surge um outro tipicamente português no reinado de D. Manuel I (1495-1521), sendo o Mosteiro de Jesus em Setúbal considerado a primeira obra manuelina que se espalha por Portugal e atinge o ápice com a Torre de Belém e o Mosteiro dos Jerónimos em Lisboa, tal como a Igreja do Convento de Cristo em Tomar.

Por fim, foi durante a época dos Descobrimentos que os estilos gótico e manuelino foram levados pelos portugueses, por além-mar, particularmente para as ilhas dos Açores e Madeira e o Brasil, onde existem ainda hoje várias edificações como a Sé no Funchal, e as igrejas neogóticas brasileiras como a Catedral de Petrópolis, a Igreja do Santuário do Caraça em Minas Gerais, a Catedral da Sé de São Paulo, a Catedral de Santos e a de Belo Horizonte, entre outros.

Portanto, o que é que tudo isto tem a ver com o Satanismo, o Vampirismo e outras coisas tão negativas e sombrias do “movimento gótico” no nosso país actual? Claro que os seus mentores procuram sempre cultivar uma filosofia própria, ligada ao mundo das trevas, aproveitando simbolos e significados cabalísticos da Ciência Oculta para fazer o seu próprio ‘Goticismo’, fazendo crer assim que estão da posse do Grande Conhecimento, incompreensível aos “comuns mortais”, como dizem, considerando todos ignorantes os que não seguem seus caminhos obscuros que eles próprios nem sabem onde vão dar. Na verdade, já Jesus dizia: “Se a luz que em vós há forem trevas, quão grandes essas trevas são”...

Pausa para reflexão!
Rui Palmela
*
Nota: fonte de consulta no Wikipédia, adapatado e melhorado pelo autor.

2 comentários:

  1. Admiro o seu conhecimento nos mais diversos assuntos e o seu espírito crítico, no entanto a tolerância pelos outros é algo que está em carência nos nossos tempos.
    "O comum dos mortais" tem capacidade para perceber a filosofia e forma de estar na vida dos chamados "Góticos" basta estar prédisposto a isso, que é algo que não me parece estar receptivo.
    Já fui "Gótica", neste momento não o sou mas aquilo que eu percebo deste chamado movimento está ao alcance de qualquer um dos "comuns mortais"!

    ResponderEliminar
  2. Surgiu quando ? Em 2008? Que parolos! EM 1978 ESTE TIPO DE ABORDAGEM DE VIDA JÁ SE VIVIA NA CIDADE DO PORTO. INFORMEM-SE E TENDES DE COMER MUITA BOROA...Ó SE TENDES...

    ResponderEliminar

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.

Related Posts with Thumbnails