terça-feira, 25 de novembro de 2008

ENTREVISTA COM URBANO TAVARES RODRIGUES


Uma entrevista feita ao conhecido escritor Urbano Tavares Rodrigues, por uma revista brasileira que escolheu o tema sobre a Crise Financeira Internacional, reflecte o pensamento de um homem dos mais prestigiados do século XX nascido em Portugal. Segundo ele, os trabalhadores vão pagar a factura da crise que se atravessa e os movimentos populares, principalmente nos países da União Europeia e nos Estados Unidos da América, tendem a ganhar força.

"A única alternativa para o capitalismo senil, que ameaça conduzir a humanidade ao abismo, é o Socialismo", afirma o escritor e jornalista que se confessa ainda comunista, falando da grave crise que se atravessa desencadeada a partir do "Império estadunidense que já provoca efeitos perversos em todo o mundo".

De resto, "Esta crise é estrutural, e não cíclica como as anteriores. Do sistema financeiro, alastrou para a economia real, e dos Estados Unidos, passou à Europa e à Ásia Oriental... ela tende a agravar-se muito e o seu desfecho é por ora imprevisível", diz o escritor com uma certeza de que: "o neoliberalismo, glorificado como a ideologia definitiva que assinalaria “o fim da História”, fracassou. Hayek [Friedrich August von Hayek] é enterrado e Keynes [John Maynard Keynes] ressuscita".

Mais conclui Urbano, na tal entrevista, dizendo: "as medidas tomadas pelos governos do G-8, transformados em bombeiros do capital, são apenas paliativos. A recuperação das bolsas e do dólar geram a ilusão de que tudo vai voltar rapidamente à normalidade, entendida esta como um reflorescimento do capitalismo sob um novo figurino. Tal convicção é enganadora".

"A economia real nos EUA, no Japão e na União Européia vai continuar a afundar-se em proporções no momento imprevisíveis. Os despedimentos maciços em dezenas de gigantescas transnacionais, os apelos angustiados dos grandes da indústria automóvel e aeronáutica à ajuda estatal e o encerramento de milhares de empresas ligadas à construção e ao comércio funcionam como espelho da gravidade e complexidade de uma crise de muito longa duração".

"A situação é dilemática porque todas as saídas são, na aparência, más. As tentativas orientadas para a humanização do capitalismo (como é o caso de governos como o Lula, no Brasil; os Kirchner, na Argentina; Tabaré, no Uruguai) são perversas, por enganarem o povo com a cumplicidade de forças e partidos progressistas. Vão fracassar. Grandes sofrimentos – essa é outra certeza – esperam a humanidade no futuro próximo. Sofrimentos que serão diferentes de continente para continente, de país para país, como diferentes serão as características da luta dos povos contra o sistema que continuará a impor-lhes a sua dominação".

"A crise coloca os povos por ela atingidos, nomeadamente na Europa Ocidental, perante uma situação dilemática. A relação de forças, da Suécia à Itália, de Portugal à Grécia, não abre a possibilidade de que a crise actual desemboque em rupturas revolucionárias. Mas, simultaneamente, a transformação profunda das sociedades da União Européia, moldadas e oprimidas pelo capitalismo, não é possível pela via institucional, dita pacífica".

"A burguesia nunca entrega o poder sem uma confrontação final com as forças do progresso. Sejamos realistas. No caso português, fora do contexto de uma crise de proporções continentais, os partidos que representam o capital continuarão a vencer todas as eleições. A alternância no governo do PS e do PSD ilustra bem o controle que a classe dominante exerce sobre os mecanismos eleitorais da impropriamente chamada democracia representativa, que na prática funciona como ditadura da burguesia com máscara democrática".

"A crise do sistema financeiro mundial adquiriu as proporções de uma crise de civilização que atinge toda a humanidade. O seu desfecho é por ora imprevisível. A única certeza é a de que milhares de milhões de pessoas vão pagar a fatura da falência do capitalismo neoliberal e da ideologia a ele subjacente, enquanto os responsáveis pela crise pouco ou em nada serão afetados, no imediato, pelo naufrágio da monstruosa engrenagem por eles montada".

"O sistema mediático apresenta uma frente única na difusão da mentira, nas explicações falsas da crise e nos remédios propostos para resolvê-la, todos orientados para a preservação do capitalismo. No discurso de sociólogos, economistas, historiadores, ministros e parlamentares chamados à televisão para esclarecer a “massa ignorante” da população, o povo não aparece como personagem. Está ausente. Os porta-vozes e epígonos caseiros do grande capital, cúmplices do caos financeiro e social que alastra pelo mundo, desprezam os trabalhadores. O panorama social da crise não é iluminado pela mídia, porque isso seria perigoso para os senhores da finanças".

Por fim, Urbano Tavares Rodrigues diz ainda sobre a eleição de Barack Obama o seguinte:

"É positivo que o povo estadunidense tenha optado por Obama, um presidente negro, com um discurso muito diferente do de seu adversário republicano. Mas não participo da euforia gerada em nível mundial pela vitória de Barack Obama. É um grande orador e um político hábil e inteligente. Mas aparece-me também como o produto de uma gigantesca e milionária campanha de marketing eleitoral. Não esqueçamos que Obama foi o candidato das Finança, dos grandes grupos transnacionais. As suas primeiras iniciativas não justificam o entusiasmo que por aí vai. Para chefe de gabinete na Casa Branca, designou já um falcão, sionista, ex-voluntário na guerra do Golfo, um belicista inflamado".

"Obama afirma pretender “ganhar” a guerra do Afeganistão, defende uma política agressiva contra o Irão, afirma que manterá o bloqueio a Cuba. O vice Joe Binden antecipou uma evidência ao afirmar que as primeiras medidas do futuro presidente serão “muito impopulares”. Alguns dos assessores são republicanos de direita e clintonianos conservadores. A designação de Madeleine Albright como sua representante na Conferência dos 20 (G-20) é inquietante".

"Temo que Obama seja uma grande decepção para a humanidade progressista"... conclui o escritor.

Esperemos que não, essa é a última esperança que o mundo aguarda para uma mudança ou melhor ordem mundial para que haja uma Nova Era Universal. Muitas coisas terão de acabar e o esforço terá de ser feito por todos os países sem excepção, se queremos ainda algum futuro para esta Civilização. Isto sou eu que penso e digo!

Pausa para reflexão!

Rui Palmela

2 comentários:

  1. concordo com esse senhor... e também me confesso comunista... mas não da CDU, BE. O BE é mais equilibrado.

    Fiz um teste em que me posiciona no centro-esquerda liberal. :S (mas é só um teste).

    Acho que é preciso uma revolução no pais... esperar até ás próximas eleições?? Como estarão as coisas naquela altura? (nem quero pensar)

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  2. Caro amigo Grifo,

    Já tive minhas ideias e posições ao lado de todos partidos de Esquerda logo após o 25de Abril/74 e me tornei um combatente pela justiça e Igualdade Social neste meu país onde gostaria de ver o povo mais feliz, porém hoje não acredito em Partido nenhum (da Esquerda à Direita), pois terá de aparecer um novo que me satisfaça verdadeiramente e com o qual me idetifique completamente. Hoje não existe!

    Pensei em votar no BE nas próximas Eleições porque gosto das posições e discursos do Louçã, mas quando penso nas suas politicas a favor dos "casamentos gays", dos abortos, etc., mudo de ideias por não concordar com isso e não voto em partido nenhum, ficando pela abstenção.

    Abraço

    RP

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