terça-feira, 15 de março de 2011

MAIS UMA HISTÓRIA REAL DE PORTUGAL NO SÉCULO ACTUAL



Enquanto decorre neste momento mais uma greve dos camionistas que contestam o preço do gasóleo insuportável e das portagens que até deviam ser gratuitas para quem leva os bens essenciais a toda a parte para a sobrevivência dos portugueses e desenvolvimeto económico do país, recebi hoje mais uma história de tristeza e de pobreza em Portugal que traduz bem o país real em que vivemos e não aquele que o governo apresenta quando faz propaganda do seu 'sucesso' virtual.  Aqui fica a história de um professor sobre o drama da fome nas escolas:

Publicado em 19 de Novembro de 2010 por Arnaldo Antunes

Ontem, uma mãe lavada em lágrimas veio ter comigo à porta da escola, dizendo que não tinha um tostão em casa, ela e o marido estão desempregados e, até ao fim do mês, tem 2 litros de leite e meia dúzia de batatas para dar aos dois filhos.

Acontece que o mais velho é meu aluno. Anda no 7.º ano, tem 12 anos mas, pela estrutura física, dir-se-ia que não tem mais de 10. Como é óbvio, fiquei chocado. Ainda lhe disse que não sou o Director de Turma do miúdo e que não podia fazer nada, a não ser alertar quem de direito, mas ela também não queria nada a não ser desabafar.

De vez em quando, dão-lhe dois ou três pães na padaria lá da beira, que ela distribui conforme pode para que os miúdos não vão de estômago vazio para a escola. Quando está completamente desesperada, como nos últimos dias, ganha coragem e recorre à instituição daqui da vila - oferecem refeições quentes aos mais necessitados. De resto, não conta a ninguém a situação em que vive, nem mesmo aos vizinhos, porque tem vergonha. Se existe pobreza envergonhada, aqui está ela em toda a sua plenitude.

Sabe que pode contar com a escola. Os miúdos têm ambos Escalão A, porque o desemprego já se prolonga há mais de um ano (quem quer duas pessoas com 45 anos de idade e habilitações ao nível da 4ª classe?). Dão-lhes o pequeno-almoço na escola e dão-lhes o almoço e o lanche.

O pior é à noite e sobretudo ao fim-de-semana. Quantas vezes aquelas duas crianças foram para a cama com meio copo de leite no estômago, misturado com o sal das suas lágrimas...

Sem saber o que dizer, segureia-a pela mão e meti-lhe 10 euros no bolso. Começou por recusar, mas aceitou emocionada. Despediu-se a chorar, dizendo que tinha vindo ter comigo apenas por causa da mensagem que eu enviara na caderneta.

Onde eu dizia, de forma dura, que «o seu educando não está minimamente concentrado nas aulas e, não raras vezes, deita a cabeça no tampo da mesma como se estivesse a dormir».

Aí, já não respondi. Senti-me culpado. Muito culpado por nunca ter reparado nesta situação dramática. Mas com 8 turmas e quase 200 alunos, como podia ter reparado?

É este o Portugal de sucesso dos nossos governantes. É este o Portugal dos nossos filhos?

Aproveito para acrescentar a esta história o facto de todos os dias irem para o lixo mais de 50.000 refeições dos restaurantes que podiam alimentar 50.000 pessoas que os donos dos Restaurantes não se importam de doar a uma certa organização que já se prontificou para realizar esse trabalho, porém até mesmo isso o governo quer taxar com o IVA e isso impede de fazer o bem a quem pouco ou nada tem. É isto o que se passa em Portugal no século actual!

Rui Palmela 

1 comentário:

  1. É muito triste esta situação Rui, infelizmente é. Estamos dia a dia a piorar. Eu por exemplo qualquer dia fico nessa situação (infelizmente é uma realidade que me assusta por ser tão verdadeira), ando à procura de emprego, curriculos e curriculos e nada, a não ser resposta de que não tenho experiência minima exigida (sempre de 2 a 5 anos). E vamos fazer o quê?
    Acho que esperar e pedir ajuda dos de lá de "cima"... Só por intervenção "divina" isto poderá mudar.

    Um abraco,

    E forca para essa familia.

    Cristiano Costa

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