O povo diz que vai mal, o governo diz que vai bem... E a verdade é que vejo festas e espectáculos sempre cheios de gente, a pular feliz e contente, com lotações esgotadas para concertos da Madona, o Rock in Rio, o S. João no Porto com 15 minutos de fogo de artifício explodindo no ar que significa muito dinheiro a queimar aos olhos das multidões, e também vejo os supermercados “Pingo Doce” a abarrotar quando fazem promoções, em poucas horas facturando milhões...
Tudo isto me faz questionar em quem devo acreditar, se no governo ou na oposição que traçam cenários bem diferentes da situação, uns dizendo que o desemprego aumentou para níveis históricos, falando da recessão, com milhares de familias passando mal, a pobreza chegando à classe média, muitos recorrendo aos organismos de assistência social, mas os governantes dizem que tudo vai indo ‘normal’, que os objectivos estão sendo alcançados com as medidas de austeridade em Portugal!
O facto é que o povo contesta mas se resigna a uma “Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira a falsificação, violência ao roubo, donde provem que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis”... como as PPP, o negócio dos submarinos, os ‘buracos’ sem fundo do BPN que todos pagamos, as pensões milionárias de uns tantos que delapidam o país, etc., etc., perante a pobreza (moral e social) desta republica portuguesa.
Isto porque somos "Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta”... (Guerra Junqueiro in “Pátria” de 1896)
Não admira pois que os governantes desta Nação nada temam de um povo inculto que apenas se lamenta e canta o fado, faz festas e cumpre tradições, discute futebol e vê telenovelas aos montões, contentando-se com o “pão e circo” que lhes é oferecido em tempos de grandes atribulações.
Os politicos que governam mal Portugal conseguem sempre manter-se no poder mesmo que o descontentamento seja geral, pois basta para isso fazer excelentes discursos nas televisões ou fazer falsas promessas em épocas de eleições. Os portugueses suportam tudo com resignação e nisto Guerra Junqueiro tinha razão. Por isso, não sei dizer qual é a verdadeira dimensão da crise no meu país onde se nasce por ‘castigo’ ou por missão, como dizia Fernando Pessoa fazendo uma certa premonição do papel futuro desta pequena e pobre Nação.
Pausa para reflexão!
Rui Palmela
É tudo verdade, Rui. No entanto, há um sinal cada vez mais presente, os políticos são vaiados em todo o lado.
ResponderEliminarUm dia a bolha rebenta, como disse o tal da "Sexta-feira"!
Um abraço.