quarta-feira, 4 de julho de 2012

COMBATER TOURADAS EM PORTUGAL É FAZER "CENSURA" CULTURAL?



Dois pequenos partidos politicos portugueses com assento parlamentar na Assembleia da República, resolveram apresentar uma proposta de abolição das touradas em Portugal, à semelhança do que já sucedeu em Espanha na região da Catalunha onde se considerava inpensável há uns anos atrás.

A discussão sobre o assunto, como sempre, acendeu os ânimos políticos e subiu o tom das palavras cheias de hipocrisia que divide os opositores dos defensores do espectáculo sangrento e violento que nada tem de cultural e a própria UNESCO classificava na sua Declaração de 1980 do seguinte modo:

"A Tauromaquia é a terrível e venal arte de torturar e matar animais em público, segundo determinadas regras. Traumatiza as crianças e adultos sensíveis. A tourada agrava o estado dos neuróticos atraidos por estes espectáculos. Desnaturaliza a relação entre o homem e o animal, afronta a moral, a educação, a ciência e a cultura"... 

Porém, esforçam-se os defensores da Tauromaquia que ela seja classificada pela UNESCO de  “Património Cultural Imaterial da Humanidade” no século actual. Oxalá que tal proposta seja rejeitada, em nome duma Civilização que se deseja mais evoluida e culturalmente avançada!

Na verdade, tal como dizia o grande escritor Vitor Hugo, primeiro foi necessário civilizar o homem em relação ao próprio homem. Agora é necessário civilizar o homem em relação à Natureza e aos animais”...

Mas os politicos/deputados da Nação, quer os do governo ou da Oposição, se unem nos mesmos motivos de rejeitar a ideia de abolir a “Festa Brava” em Portugal e até acham que combater as touradas no país é fazer uma “censura" cultural, além de que  afectaria ainda mais a economia, segundo eles.  Por essa ordem de ideias também não se devia combater o Alcoolismo, o Tabagismo e outros males da população portuguesa que seguem os mesmos vícios da tradição que dão milhões de euros de impostos para os cofres da Nação.

Enfim, "A corrida de touros é um jogo sujo onde o touro é o único animal honesto", dizia alguém que denuncia o que se passa nos bastidores das Touradas onde o animal é provocado e torturado antes de entrar,  já super excitado, nas arenas onde se praticam ignóbeis e tristes cenas.

Está na hora pois de acabar com estes espectáculos medievais nos tempos actuais ou pelo menos limitar suas transmissões televisivas e proibir a entrada de crianças que muitos pais levam para assistir como se fosse algo digno de cultivar em suas vidas. O exemplo de Barrancos é dos piores e mais traumatizantes que o governo devia considerar, pois ali a crueldade atinge o auge do massacre aos touros que são mortos em plena praça pública, após uma festa religiosa em nome de “Nossa Senhora da Conceição” que decerto ficaria horrorizada com tudo isso mas a Igreja Católica não se pronuncia, dando até sua ‘benção’.

Até quando estes espectáculos públicos, violentos e sangrentos, são considerados ‘cultura’ pela força da tradição?

Pausa para reflexão!

Rui Palmela

5 comentários:

  1. Rui, infelizmente, o partido de Rajoy, já voltou a legalizar as Corridas de Touros na Catalunha, depois de estas terem sido abolidas.

    Cumps,

    Cristiano Costa

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  2. Sério, Cristiano? Como pode ser isso? As leis fazem-se e desfazem-se conforme mudam os partidos em Espanha? Bem, não admira, aqui em Portugal também é assim... Os touros de morte eram proibidos no país mas foi aprovada uma "lei de excepção" para Barrancos, por determinado(o PS), com a aprovação de outros na oposição...

    Só com novas mentalidades no poder se pode mudar as coisas neste país, acabando com certas tradições medievais e outras coisas mais...

    Não se pode construir um Mundo Novo, mais evoluido e avançado, com gente pretendendo perpetuar os erros e tantos males do passado.

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  3. Olá Rui!

    Em seguida transcrevo algo que recebi por email:

    "Subsídios para as touradas - Por falar em subsídios, no passado dia 21/03/2012 foi publicada no Diário da República a lista dos subsídios atribuídos pelo IFAP no 2.º semestre de 2011, tal como se havia publicado a listagem relativa ao 1.º semestre de 2011 no dia 26/09/...2011.

    No ano de 2011 o IFAP atribuiu subsídios no valor de €9.823.004,34 às empresas e membros das famílias da tauromaquia :

    Ortigão Costa - 1.236.214,63 €
    Lupi - 980.437,77 €
    Passanha - 735.847,05 €
    Palha - 772.579,22 €
    Ribeiro Telles - 472.777,55 €
    Câmara - 915.637,78 €
    Veiga Teixeira - 635.390,94 €
    Freixo - 568.929,14 €
    Cunhal Patrício - 172.798,71 €
    Brito Paes - 441.838,32 €
    Pinheiro Caldeira - 125.467,45 €
    Dias Coutinho - 389.712,42 €
    Cortes de Moura - 313.676,87 €
    Rego Botelho - 420.673,80 €
    Cardoso Charrua - 80.759,12 €
    Romão Moura - 248.378,56 €
    Brito Vinhas - 53.686,78 €
    Romão Tenório - 283.173,89 €
    Sousa Cabral - 318.257,79 €
    Varela Crujo - 188.957,35 €
    Assunção Coimbra - 330.789,44 €
    Murteira - 137.019,76 €"


    Como pode ver os motivos 'culturais' são mais que muitos.


    Um abraço,
    Ana Ferreira

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  4. É escandaloso e vergonhoso tudo isso, minha amiga, isso precisa ser denunciado em todos os meiios de comunicação social que fazem silêncio ou desconhecem tais subsídios atribuidos em tempo de crise a essa gente da Tauromaquia que devia era trabalhar para ajudar o país e não serem 'chulos' de tanto dinheiro que recebem do Estado que afinal é de todos nós e eu pessoalmente abomino touradas.

    Como cidadão deste país, com o subsidio de férias e de natal cortados pelos sacrifícios impostos aos funcionários públicos, vou questionar o 1º Ministro deste país e a AR a respeito dessa vergonhosa situação que a maioria parlamentar não aceitou propostas no sentido de fazer alguma alteração.


    Um abraço.

    RP

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  5. Não resisto à tentação de colocar aqui uma resposta do único grupo parlamentar da AR (o CDS/PP) que se dignou responder á minha questãos dos subsídios atribuidos à Tauromaquia que eu questionei a todos os partidos ali representados pedindo uma explicação como cidadão deste país. Aqui fica a resposta do CDS/PP:

    Exmº Senhor;

    Antes de mais agradecemos o contacto. Relativamente à questão colocada cumpre-nos esclarecer que, os senhores a quem se referem, além de serem ganadeiros, são, acima de tudo, agricultores ligados a vários sectores agrícolas como Olival, vinha, lagares, adegas, suinicultura, culturas de sequeira, ganadaria mansa e brava entre outros.

    Quanto aos valores apresentados é importante referir que dizem respeito ao total dos subsídios atribuídos anualmente a cada empresa agrícola, o que também inclui casas cujo nome, junto do público em geral, está exclusivamente associado à ganadaria brava mas, de facto isso não se verifica.

    Podemos ainda dizer que neste contexto a ganadaria brava, sendo o sector menos rentável é também aquele que tem associado o maior risco de causar prejuízo, pelo que na maioria dos casos só é economicamente sustentável na medida em que está integrado no âmbito de uma casa agrícola. A titulo de exemplo, podemos comparar o tempo de desenvolvimento de um bezerro bravo e de um bezerro manso, no primeiro caso o valor ao desmame é em média 1/5 de um bezerro manso, tendo o ganadeiro que suportar o seu sustentar pelos menos durante 4 anos. A este tempo de espera ainda acrescem outras dificuldades como a de maneio.

    Posto isto, podemos dizer que apenas a tradição e o gosto pessoal move estes agricultores a continuar com a ganadaria.

    Com os melhores cumprimentos,

    Tiago Abreu
    Assessor



    Perante esta resposta que me pareceu “conversa para “boi dormir” como dizem os nossos irmãos brasileiros, dei a minha que coloco a seguir:

    Caro sr. Tiago Abreu,

    Começo por agradecer sua resposta e esclarecimento sobre a questão dos subsídios atribuidos à Tauromaquia que vc justificou referindo que são ganadeiros ligados à agricultura com seus vários sectores agricolas e termina dizendo que "apenas a tradição e o gosto pessoal" desses mesmos ganadeiros/agricultores move a continuar com as touradas sustentadas (em parte ou na totalidade) pelos contribuintes portugueses que o Estado se permite utilizar desse modo, quando seria bem mais correcto se os mesmos subsídios fossem atribuidos a pequenos agricultores pobres que não se podem dar ao luxo de ter ganadarias.

    Da mesma forma exprimo minha própria opinião pessoal (que certamente é o da maioria dos cidadãos portugueses) de que esses e outros subsidios (como o financiamentos aos Partidos Politicos) devessem ser suspensos em tempo de Crise que o país atravessa e ser reavaliados na sua atribuição mais justa noutros sectores (saúde, educação, etc.) onde se fazem cortes cegos que afectam milhares de portugueses carenciados e injustamente sacrificados.

    Com os melhores cumprimentos,

    Rui Palmela
    Setubal

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