Em Nome da Clareza
A situação na Terra é delicada. Tal fato, apesar de em certo grau estar sendo trazido a público desde o final do século passado, não recebeu a devida atenção. Já estamos vivendo tempos criticos, mas a grande maioria das pessoas (mesmo as que se interessam pela espiritualidade) permanece entorpecida pela propaganda e falsa informação. Mantêm-se assim afastadas de decisões internas e externas importantes com respeito à presente crise planetária, e muitas serão apanhadas de surpresa pelos acontecimentos calamitosos que se anunciam no cenário mundial.
Não vivemos tempos normais. Para cada fase de uma enfermidade, uma acção específica se faz necessária. O que poderia ter ajudado ontem mostra-se ineficaz e até dispersivo hoje. A experiência confirma: movimentos de protesto, lutas por melhorias sociais, econômicas e políticas não conseguem amainar essa situação.
Assistimos à substituição de uma teoria por outra, de um regime por outro, de um líder por outro, mas a nenhuma mudança genuína na mentalidade humana. Estruturas e instituições estão deterioradas pelos sucessivos erros cometidos através dos séculos e não são mais passíveis de reformas; o mal está tão infiltrado nelas que não permite transformações verdadeiras. Como agir?
Na vida universal, da qual a Terra é só uma fracção, há diferentes escalões de seres e consciências. A evolução não é conduzida pelo homem, nem a existência se restringe ao mundo tangível. Na verdade, o invisível é base e origem do visível.
O campo de acção das forças em conflito no planeta e no ser humano é a consciência. Essas forças têm de transmutar-se no ser para que se transmutem no mundo. Podemos colaborar nesse processo? Sim, efectivamente; mas não podemos controlá-lo. Energias supra-humanas, espirituais, regem a evolução dos mundos.
Nesta época, a transformação da vida terrestre é inevitável. Chegamos a um ponto em que grandes ciclos universais se completam e outros se iniciam. A acção e o querer humanos não podem impedir essa transformação, nem fazer com que ocorra. Ela transcende o âmbito das pessoas e do livre-arbítrio; já em acto, advém de uma mudança na própria estrutura magnética da Terra e na sua relação com a vida solar e cósmica. Abrange todos os campos de existência no planeta e traz mudanças na inclinação do seu eixo magnético, na sua crosta, no seu clima e na conformação dos continentes e dos mares; traz também o surgimento de novas espécies e o desaparecimento de outras. Possibilita, ainda, a implantação supra-física de um novo código genético na humanidade da superfície e o seu contacto lúcido com civilizações evoluídas, de outras dimensões deste mesmo planeta ou do espaço sideral.
Mas isso não significa que devamos permanecer indiferentes ao transcurso desses momentosos factos mundiais. Pelo contrário, significa que devemos aderir ao movimento transformador que se opera na consciência antes de reflectir-se externamente.
Assim, se por um lado a transformação na Terra é inevitável — por obra e graça de Inteligências cósmicas —, por outro lado o modo como ela transcorre depende da participação humana.
É com base no conhecimento do próprio ser interior que o homem pode transcender as aparências e o fascínio que elas exercem, que pode deixar de se constranger pelas forças involutivas que manejam e manejarão as estruturas desta civilização ainda por algum tempo, e que pode contribuir conscientemente para a transformação planetária.
Sendo esse conhecimento do ser interior uma experiência íntima e não só uma elaboração teórica ou um sentimento idealista, com ele indivíduos e grupos entrarão realmente numa nova vida — sem que autoridade alguma precise guiá-los segundo as falsas concepções que hoje predominam. Com o contacto interior, eles saberão que suas acções positivas e suas expansões de consciência se reflectem nos demais, pois não há separação entre eles e seus semelhantes, entre eles e o Universo.
("Sinais de Figueira" de Trigueirinho)