terça-feira, 5 de outubro de 2010

A REPUBLICA, O REGICIDIO E O PANTEÃO NACIONAL



Faz hoje 100 anos  que se comemora a implantação da República em Portugal que foi o resultado de um golpe de estado organizado pelo Partido Republicano Português que destituiu a Monarquia Constitucional no dia 5 de Outubro de 1910 para dar ao povo direitos, liberdades e garantias de uma vida melhor, porém 100 anos depois e após a queda do “Estado Novo” (o regime salazarista) em 25 de Abril de 1974, o Povo continua à espera de melhores dias e verifica-se que os ‘donos’ da “Democracia” são neo-liberais numa “República Burguesa” onde os politicos enriquecem como a Realeza e falam de Igualdade e Justiça Social.

Mas recuando 100 anos atrás, vale a pena conhecer um pouco da história como tudo começou no Regicídio (assasinato do Rei) no dia 1 de Fevereiro de 1908 na Praça do Comércio (ou Terreiro do Paço em Lisboa) que marcou profundamente a história da Monarquia no país, uma vez que dele resultou a morte do Rei D.Carlos e do seu filho herdeiro, o Príncipe D.Luís Filipe, terminando assim 750 anos de dominio real desde a Fundação de Portugal.

O atentado ficou a dever-se ao progressivo desgaste do sistema político português na época em que, tal como agora, havia uma alternância de dois partidos no Poder: o Progressista e o Regenerador, fazendo lembrar o Socialista e o Social-Democrata.

O Rei, como árbitro do sistema político (tal como o Presidente da República hoje) havia designado João Franco para o lugar de Presidente do Conselho de Ministros, chefe do Governo. Este, dissidente do Partido Regenerador, solicitou ao Rei o encerramento do Parlamento para poder implementar uma série de medidas com vista à moralização da vida política. Com esta medida acirrou-se toda a oposição, não só a republicana (bastante activa em Lisboa), mas também a monárquica, liderada pelos políticos rivais de Franco.

O Rei tornou-se então no alvo de todas as críticas, que acusavam Franco de governar em Ditadura. A questão dos Adiantamentos à Casa Real (regularização de dívidas régias ao Estado) e a assinatura do Decreto de 30 de Janeiro de 1908, que previa a expulsão sumária para as colónias dos envolvidos numa intentona republicana ocorrida dois dias antes, precipitaram os acontecimentos.

O Rei, a Rainha e o Príncipe Real encontravam-se na altura em Vila Viçosa, no Alentejo, onde costumavam passar uma temporada de caça no inverno. Os acontecimentos acima descritos levaram D. Carlos a antecipar o regresso a Lisboa, tomando o comboio na estação de Vila Viçosa, na manhã do dia 1 de Fevereiro. A comitiva régia chegou ao Barreiro ao final da tarde, onde tomou o vapor com destino ao Terreiro do Paço, onde desembarcaram por volta das 17 horas da tarde. Apesar do clima de grande tensão, o rei optou por seguir em carruagem aberta, com uma reduzida escolta, para demonstrar alguma normalidade.

Enquanto saudava a multidão presente na Praça, a carruagem foi atacada por vários disparos. Um tiro de carabina atravessou o pescoço do Rei, matando-o imediatamente. Seguiram-se vários disparos, e o Príncipe Real conseguiu ainda alvejar um dos atacantes, sendo em seguida atingido na face por um outro disparo.

O infante D.Manuel é também atingido num braço. Dois dos regicidas, Manuel Buíça, professor primário expulso do Exército e Alfredo Costa, empregado do comércio e editor de obras de escândalo, são mortos no local. Outros fogem. A carruagem entra no Arsenal da Marinha, onde se verifica o óbito do Rei e o do Herdeiro do Trono.

O infante sobrevivente ao atentado, D.Manuel II, reinaria até 1910. Após o atentado, o Governo pediu a demissão de João Franco, que não impedira a morte do Rei. O Governo "de Acalmação" lançou um rigoroso inquérito que ao longo de dois anos se veio a apurar que o atentado fora cometido por membros da Carbonária (que se diz ligada á Maçonaria), que pretendia liquidar a Monarquia. O processo de investigação estava concluído nas vésperas do 5 de Outubro.

Entretanto, tinham sido descobertos mais suspeitos no Regicídio, um dos quais Aquilino Ribeiro, Virgílio de Sá, Domingos Fernandes, entre outros. Alguns dos elementos estavam refugiados no Brasil e em França, e dois pelo menos foram mortos pela própria Carbonária. O regicídio acabou por abreviar a monarquia ao colocar no trono o jovem D.Manuel II e lançando os partidos monárquicos uns contra os outros, com gáudio dos republicanos.

A Europa ficou revoltada com o atentado ao Rei D.Carlos, pois este era estimado pelos restantes chefes de estado europeus.

Toda esta história que aqui coloquei tem por finalidade levantar uma questão que me parece pertinente, pois houve recentemente a trasladação do cadáver de Aquilino Ribeiro (um dos implicados na intentona) que foi retirado do cemitério dos Prazeres onde esteve durante 44 anos para ser colocado no Panteão Nacional. O pedido foi feito por alguns interessados que ficaram satisfeitos com a autorização do governo socialista que procedeu à cerimónia oficial e tudo. Não estiveram presentes membros da Monarquia por motivos óbvios.

Perante este facto, faço aqui a seguinte pergunta como cidadão português: Porque é que Aquilino Ribeiro mereceu honras de Estado e ocupou um lugar no Panteão Nacional onde supostamente só deverão estar figuras dignas de relevo (não de criminosos claro) que merecem ser lembradas na História de Portugal? Será que foi apenas por ser um grande romancista ou escritor? Não o mereceriam por isso outros bem maiores do que ele?

Que se pretendeu mostrar com este tipo de ‘provocação’ na vigência do Governo Socialista do século XXI em que o próprio Presidente da República Dr. Cavaco Silva (da Social-Democracia), juntamente com o 1º Ministro José Sócrates (Socialista) e o Presidente da A .R. Jaime Gama assinaram todos por baixo?

Fica aqui esta questão.

Pausa para reflexão!

Rui Palmela

5 comentários:

  1. Manuel Ribeiro06 outubro, 2010

    Olá Rui Palmela,

    Mas há coisas que só a violência resolve e põe fim. E a situação política, económica e financeira actual dos Portugueses é como muito bem explica idêntica há daqueles tempos e muito grave.

    Vai ser de certeza necessário recorrer à violência para mudar o rumo desastroso do país, porque os senhores reis actuais não querem e não são capazes de mudar e melhorar nada e a situação actual vai piorar cada vez mais, não o duvide...

    E quanto a criminosos de guerra e a criminosos políticos, para mim são homens de muita coragem e valentia e que honradamente e estoicamente arriscaram a perda da sua vida pelo bem geral e de todos os que ficassem vivos....

    E porque contra a TIRANIA só resta a violência e a guerra (e não foi o que Bush, Durão Barroso e outros fizeram a Sadam Hussein?), eu pertenço ao Povo deste país e defendo a República, por esta ser a soberania do Povo, das eleições, da igualdade, da liberdade e da solidariedade... Só que uns chicos-espertos tecnocratas pervertem tudo e enganam as pessoas e os eleitores e por isso continuamos com o rotativismo partidário entre PS e PSD...

    E os reis do passado e actuais e as suas cortes de apoio (uma minoria privilegiada e protegida pelas armas) e sustentada com muitas "cenouras-Euros" e ocupando cargos nos órgãos e nas instituições do Estado e muito bem pagos com salários e reformas de 10 a 20 vezes superiores ao salário mínimo e à reforma mínima, para serem leais e subservientes aos reis passados e actuais, subjugavam e subjugam o Povo, com o recurso à violência sistemática dos povos e à arbitrariedade e à discriminação sistemática dos direitos e dos deveres, na justiça, na educação, no emprego, nos cuidados de saúde, na protecção social e económica, etc., coisas inadmissíveis e impossíveis de aceitar pelas mentes mais lúcidas do mundo actual...

    Fique bem e dê sinais de vida sempre, porque eu o admiro e gosto de ler o que escreve, pela clareza, verdade e pertinência dos assuntos que trata...

    Receba um abraço fraterno e viva o ideal republicano que acabe a balbúrdia e a mentira e a ditadura democrática do centrão e do rotativismo partidário do PS e do PSD...

    MR

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  2. Olá amigo Manuel Ribeiro,

    Grato pelo seu comentário com o qual concordo em tudo o que escreveu excepto a recurso à violência e à guerra que nunca será a melhor forma de tornar o mundo melhor, com mais justiça, mais verdade e mais amor.

    A violência é a força dos brutos dizia alguém e serve o exemplo de Gandhi que conseguiu vencer o império britânico e libertar a India do seu jugo sem o recurso à violência e sim apenas pela mobilização geral de seu povo que se mantinha firme enfrentando o exército inglês sem armas, apenas pela força da Razão.

    A violência gera sempre violência, caro amigo MR, tal como a guerra gera sempre guerra, o ódio gera ódio, a vingança gera vingança, e cai-se num circulo vicioso interminável de lutas entre humanos que fazem deste Mundo um palco de discórdias, dor e derramamento de sangue, gerando um karma terrivel que será pago sempre com grande sofrimento de geração em geração.

    Por isso discordo que criminosos de guerra e criminosos políticos sejam gente de grande valentia ou coragem que “honradamente e estoicamente” arriscam sua vida pelo bem comum, pois maior homem foi aquele que sacrificou sua vida por todos nós, pelo bem do Mundo, sofrendo como um cordeiro nas mãos dos homens que ainda hoje continuam cegos e surdos, fazendo idolos a quem seguem, dando-lhes poder, trilhando todos caminhos de condenação.

    Por isso, defendo mais que as pessoas devam mudar primeiro seus comportamentos e mentalidades e percebam a verdadeira origem dos males do mundo, dos seus problemas e da Sociedade em geral, que querem tornar melhor mas sem dar seu contributo para tal. De resto, nada acontece por acaso e costuma-se dizer que "cada povo tem o governo que merece" porque é ele próprio que o escolhe e elege, seja em 'democracia' ou em 'ditadura' porque continua sempre com os mesmos erros e defeitos que alimentam todo o sistema onde se inserem.

    Portanto a única forma de tornar o Mundo melhor, começa dentro de nós mesmos e se todos fizerem assim os futuros homens que chegarem ao Poder serão mais justos, humanos e fraternos, e deixarão de haver mentecaptos como George Bush e seus lacaios que mentem e subjugam povos pela força das armas, das guerras, da violência e que só leva à destruição.

    Um grande abraço e

    Pausa para reflexão!

    Rui Palmela

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  3. Acho triste e vergonhoso este episódio da nossa história; e parece-me que causa vergonha a mais pessoas. Há dias, conversando com o meu filho de 9 anos a este respeito, constatei que na escola lhe falaram muito favoravelmente sobre a implantação da república, mas nada disseram do regicídio. Eu tratei de lhe contar tudo, o que o deixou bastante chocado.

    Além disso, acabou a monarquia mas temos republicanos a viverem regiamente; acho tudo uma enorme hipocrisia!

    Para terminar: vivemos tempos de grande crise, não vejo o que comemorar e festejar. Só mesmo para tolos!

    Um abraço, Rui.

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  4. Olá amiga Fernanda,

    É um prazer ver seus comentários neste meu Blog que o enriquecem com sua clareza de ideias e opinião livre com a qual concordo em absoluto com tudo o que disse.

    Estive vendo seu Blog e fiquei maravilhado com seu artigo FÉ NA REPÚBLICA, AINDA? que tomei a liberdade de trazer para aqui e acrescentar ao seu comentário. Espero que não se importe.

    Aqui fica:


    Há homicídios que são especiais; são tão graves e chocantes que têm até uma designação diferenciada: matricídio, parricídio, fratricídio….e regicídio. O assassinato do rei está na mesma linha dos crimes contra-natura.

    Há episódios da História de Portugal de que eu não gosto mesmo nada, e esse do assassinato do rei D.Carlos e do filho, o príncipe herdeiro Luís Filipe, é um deles. Sem saber exactamente porquê sempre me senti um pouco envergonhada com esse acontecimento. Embora não possa ser responsabilizada, sentia-me conivente; talvez por aceitar viver num regime republicano sem contestar.

    Dizem que somos um povo de brandos costumes, no entanto, nessa passagem da Monarquia para a República, não se viu brandura alguma. Foi violento, cruel e desnecessário.

    Há dias, quando eu sugeri a uma pessoa que ia participar numa corrida em homenagem à República, que vestisse uma t-shirt azul, ela perguntou-me se eu sou monárquica.
    - Já fui menos. Respondi.

    A minha fé neste sistema político tem sido constantemente abalada. O que falta em competência e honestidade, abunda em oportunismo e má-fé, de tal forma que os poucos políticos decentes se afastaram da cena política, enojados e frustrados.

    Os reis foram acusados de viverem faustosamente e afastados, porém os palácios, construídos por eles, monumentos históricos que nos orgulham, são hoje habitados pelos políticos republicanos. E estes, o que constroem? Mamarrachos! Vejam lá se o Presidente Cavaco Silva foi viver para o Centro Cultural de Belém!

    Se na história da Europa tivessem existido Repúblicas desde sempre, este Continente seria feio, pobre e sem história. As monarquias privilegiaram o belo, e ao longo dos tempos, os reis foram mecenas dos artistas que ficaram na História, imortalizados nas suas próprias obras. Quantos não se teriam perdido, numa Republica?!

    As monarquias na Europa funcionam muito bem, todos sabemos disso. As famílias reais souberam actualizar-se e integrarem-se num novo modelo de sociedade. E acredito, que devido à continuidade, na representação dos seus papéis, os países onde reinam são mais beneficiados.

    O Rei D.Carlos teve uma educação primorosa, como seria de esperar, preparando-o para ser rei. Foi um homem de diversos e conceituados talentos; culto, falava fluentemente francês e inglês, pintava com maestria, interessava-se pela ciência sendo inclusivamente reconhecido internacionalmente; desportista sem-par, fez de resto imenso pelo desporto em Portugal.

    “ Nunca esqueci, um instante sequer, quais são os meus deveres para com a minha coroa e para o meu querido país”. Rei D.Carlos

    Foi o último governante português a pensar assim. Depois dele, vieram os que só pensam neles próprios. E nas famílias. E nos amigos, claro!

    Por tudo isso, meus caros leitores, amanhã (5-10-2010) não festejarei o regicídio que é mesmo que festejar a implantação da república. Tal como não festejo a injustiça!

    Quem sentir que o momento é de festa, que a cena política nacional merece festejos e risos, faça o favor!

    Até breve!"


    Parabéns pela sua forma de pensar diferente de muita gente, amiga Fernanda.

    Um grande abraço.

    Rui Palmela

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  5. Obrigada, Rui.
    Na verdade sinto-me muito honrada por ver o meu texto aqui no seu blogue, cuja função é a de "abanar" consciências, algo que me é muito caro.

    Um abraço.

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